ISSN:2238-6408 (online)
Candida de Sousa Melo - UFPB

Resumo: O problema metafísico central em filosofia da mente concerne a relação entre a mente e o corpo. Quando tentamos explicar a relação entre nossos estados de pensamentos e nossas ações, por exemplo, nos confrontamos imediatamente com a dificuldade, aparentemente intransponível, de explicar a causação mental. Devemos responder à questão: os estados de pensamentos causam, efetivamente, o que fazemos? Faz parte das intuições mais básicas do senso comum e de uma longa tradição filosófica que as crenças, os desejos, as intenções, as decisões e outros estados e atos de pensamentos conscientes causam nosso comportamento. O papel que a mente (consciência, intencionalidade e racionalidade) exerce nas ações voluntárias tem sido, no entanto, questionado há várias décadas. Enquanto alguns filósofos manifestam dúvidas sobre as conclusões oriundas dos resultados da neurociência indicando que os processos neurológicos inconscientes precedem e produzem potencialmente tanto a sensação de tomada de decisão voluntária quanto a realização do próprio ato motor, outros se alinham completamente às evidências (obtidas em laboratórios) e defendem a redução dos estados mentais aos processos puramente cerebrais. O ceticismo sobre o real papel dos estados de consciência, por exemplo, cujo traço característico é a subjetividade, é, portanto, bem fundamentado e representa uma tendência teórica no âmbito da filosofia analítica da mente. Muitos tentaram naturalizar a consciência a fim de salvá-la da redução ontológica sem, no entanto, poder evitar a redução causal. Neste trabalho, analisamos a abordagem do naturalismo biológico de John Searle sobre a causação mental e a crítica que Jaegwom Kim lhe dirige. A teoria de Searle apresenta uma defesa da realidade dos estados mentais e parece resistir ao reducionismo, mas Kim mostra o perigo ao qual essa abordagem se expõe: a sobredeterminação causal. Segundo Searle, as propriedades mentais constituem um traço objetivo do mundo físico (um sistema constituído de níveis d’entre os quais alguns têm traços subjetivos). Ao contrário de Searle, Kim pensa que essa estratificação em níveis não fornece qualquer solução ao problema do papel causal da mente sobre nosso comportamento. Kim terá razão?

 

Palavras-chave: Naturalismo biológico; Causação mental; Consciência; Estados e ações intencionais; Redução ontológica.

 

Abstract: The central metaphysical problem in philosophy of mind concerns the famous question of the mind-body relation. When we try to explain the relation between our thoughts and our actions, for example, we are immediately confronted with the seemingly insurmountable difficulty of explaining mental causation. We must answer the question: do thought states actually cause what we do? It is part of the most basic intuitions of common sense and a long philosophical tradition that beliefs, desires, intentions, decisions and other states and acts of conscious thought cause our behavior. The role that the mind (consciousness, intentionality and rationality) has in voluntary actions has, however, been questioned for several decades. While some philosophers express doubts about the conclusions arising from the results of neuroscience indicating that unconscious neurological processes potentially precede and produce both the sensation of voluntary decision-making and the realization of the motor act itself, others are completely aligned with the evidence (obtained in laboratories) and advocate reducing mental states to purely brain processes. Skepticism about the real role of states of consciousness, for example, whose characteristic feature is subjectivity, is therefore well-founded and represents a theoretical trend within the scope of the analytical philosophy of the mind. Many have tried to naturalize consciousness in order to save it from ontological reduction without, however, being able to avoid causal reduction. Our work will analyze John Searle’s approach to biological naturalism about mental causation and the criticism that Jaegwon Kim directs to him. Searle’s theory presents a defense of the reality of mental states and seems to resist reductionism, but Kim shows the danger to which this approach is exposed: causal overdetermination. According to Searle, mental properties constitute an objective feature of the physical world (a system consisting of levels between which some have subjective features). Unlike Searle, Kim thinks that this stratification in levels does not provide any solution to the problem of the causal role of the mind in our behavior. Is Kim right?

 

Keywords:  Biological naturalism; Mental causation; Consciousness; Intentional states and actions; Ontological reduction.