ISSN:2238-6408 (online)
Maria Murta - Universidade de Évora, Portugal. CIDEHUS

Resumo: O fenómeno social da descriminação é transversal ao tempo e ao espaço, sendo descrito na literatura tradicional e aceite como situação normativa. A partir desta constatação, propomos mostrar que a descriminação a que assistimos muitas vezes tem origem inesperada, invertendo-se as posições. Consideramos que o conto Le Petit Poucet, na versão de Perrault não pode ser entendido como material literário neutro, mas como um recurso que permite o desenvolvimento de uma ética da alteridade e da empatia. Quais são os critérios para julgarmos o “outro”? Quais são as consequências das nossas ações sobre aqueles que consideramos diferentes? São questões que revelam que o conto é um desafio filosófico e ético, o qual incentiva a pensar criticamente sobre o que é afinal a igualdade e o papel do inesperado na construção de uma sociedade. Esta perspetiva permite-nos abordar a problematicidade das relações humanas face às diferenças, e a partir daqui, encaminhar a criança para a compreensão e aceitação do inesperado e do diferente como fundamentais para vivermos numa sociedade equitativa.

 

Palavras-chave: Perrault, Educação, Ética

 

Abstract: The social phenomenon of discrimination cuts across time and space and is described in traditional literature and accepted as a normative situation. Based on this observation, we propose to show that the discrimination we witness often has an unexpected origin, reversing the positions. We believe that Perrault’s version of Le Petit Poucet cannot be understood as neutral literary material, but rather as a resource that allows us to work on developing an ethic of otherness and empathy. What are the criteria for judging the ‘other’? What are the consequences of our actions on those we consider different? These are questions that reveal that the story is a philosophical and ethical challenge, which encourages us to think critically about what equality really is and the role of the unexpected in building a society. This perspective allows us to address the problematic nature of human relationships in the face of differences, and from here, to guide children towards understanding and accepting the unexpected and the different as fundamental to living in an equitable society.

 Keywords: Perrault, Education, Ethics