Resumo: A proposta do presente artigo é estabelecer uma leitura paralela entre Marquês de Sade e Bento de Núrsia, aproximando as interpretações dos autores pela leitura anterior de Giorgio Agamben, com o interesse de explorar dois importantes elementos que as atravessam: a comunidade e o corpo. A rigor, de Homo sacer: il potere sovrano e la nuda vita a L’uso dei corpi, procuramos apresentar os momentos na obra do filósofo italiano nos quais as referências aos dois autores ocupam um espaço manifesto e adquirem uma função bem determinada no texto. Antes que Michel Foucault descesse ao poder que se exerce sobre o corpo investido por relações de poder e dominação, especialmente em Surveiller et punir, os textos libertinos sadianos e a tradição monástica cristã criaram grupamentos que podem, com folga, ser considerados modelos extemporâneos de estruturas disciplinares. Toda a instrumentação multiforme dos corpos humanos que seria exarada pelo filósofo francês séculos ou anos depois cabe no conhecimento dos modelos em pauta. Tendo o acervo literário europeu sempre desempenhado um papel todo próprio na produção intelectual de Giorgio Agamben, Sade e Bento serão aqui os guias para a travessia rumo à paródica sujeição do poder político.
Palavras-chave: Giorgio Agamben; Marquês de Sade; Bento de Núrsia; comunidades; corpos.
Abstract:The purpose of the present article is to set up a parallel reading between Marquis de Sade and Benedict of Nursia, approaching the interpretation of those authors by the previous vision brought by Giorgio Agamben, with the interest of exploring two important components that get through them: the community and the body. Indeed, from Homo sacer: il potere sovrano e la nuda vita to L’uso dei corpi, we aim to identify the moments in the works of the Italian philosopher in which the references to those two authors are evident and have a decisive function in the argument. Before Michel Foucault could come down towards the power that has as main object the bodies invested by relations of power and domination, particularly in Surveiller et punir, the libertine texts of Sade and the Christian monastic tradition created groups of human beings which can, in fact, be considered extemporaneous models of disciplinary structures. All the multiform instrumentation of human bodies that occupies the worries of the French philosopher, centuries or years later, fits in the knowledge of the two models in discussion. The European literature has always had a properly role in the intellectual production of Giorgio Agamben. Marquis de Sade and Benedict of Nursia will be here for us the guides leading to the parody of subjection to political power.
Keywords: Giorgio Agamben; Marquis de Sade; Benedict of Nursia; communities; bodies.